Hamilton, Burr e o Tempo da Política
Quando é a Hora Certa de Construir Políticas Públicas?
Não é a primeira vez que os nomes de Hamilton e Burr aparecem na Quinze por Dia. Mais uma vez, a referência é ao musical da Broadway1.
Alexander Hamilton foi um dos pais fundadores dos EUA. Além de atuar no campo de batalha, foi um teórico que pensou nas fundações do novo país. Já Aaron Burr foi o terceiro vice-presidente dos EUA e tirou a vida de Hamilton em um duelo.
No musical, os algozes têm suas canções-tema, que refletem suas personalidades.
A música de Hamilton, Get my shot, fala sobre aproveitar todas as oportunidades e ser proativo, mesmo diante de chances mínimas. Jovem, determinado e faminto.
Já a canção-tema de Burr, Wait for it, é uma ode à espera pelo momento exato, uma única chance para uma grande jogada2.
Nenhum dos dois chegou a presidente, mas a questão não é essa.
Esse embate musical sempre surge quando o assunto é o tempo na política. É melhor forçar uma pauta ou esperar um alinhamento de fatores?
No livro Modelo para avaliação ex ante de políticas públicas baseada no processo legislativo: uma abordagem por meio dos múltiplos fluxos, de Alessandra Giseli Matias, há uma apresentação da Teoria dos Múltiplos Fluxos, desenvolvida por John Kingdon, aplicada na avaliação prévia do impacto legislativo no processo legislativo federal.
Trata-se de uma análise muito interessante, pois, algumas vezes, a avaliação de impacto legislativo se prende a uma análise econométrica das possibilidades.
A teoria de Kingdon, embora considere variáveis, possui um aspecto de ciência política ao praticar uma escuta ativa dos atores e ponderar as opiniões de diversos agentes.
De maneira muito resumida, há três fluxos:
Problemas, que reúne variáveis sobre indicadores, crises ou eventos, e considerações sobre as ações existentes.
Soluções, que inclui variáveis de viabilidade técnica, aceitação pela comunidade e custos toleráveis.
Político, que leva em conta variáveis como o humor nacional, forças políticas organizadas e mudanças no governo.
Além dos três fluxos, há a janela de oportunidade, que ocorre quando esses elementos convergem.
Nesse sentido, não adianta uma força, seja dentro do parlamento, do executivo ou da sociedade, tentar forçar a construção de uma política pública — mais especificamente, de um projeto de lei — sem a confluência de diversos fatores técnicos e políticos.
Ou seja, não adianta uma postura “Hamilton” de tentar fazer acontecer a qualquer custo, sem um ambiente favorável.
Assim como na vida de Aaron Burr, a política exige, na maioria das vezes, paciência e estratégia. Nem sempre o caminho mais rápido é o mais eficaz, e entender o momento certo para agir pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso de uma política pública.
Outro aspecto é que pela complexidades das situações, os debates esquentam e esfriam, mas sempre acabam ressurgindo.
Saber esperar pela convergência dos fatores técnicos e políticos é uma habilidade essencial para quem deseja transformar ideias em leis.
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