Um meme vai definir o seu voto
O termo meme foi cunhado pelo zoólogo Richard Dawkins em sua obra O gene egoísta, de 1976, para fazer uma comparação com o conceito de gene.
Assim, para Dawkins, a definição desse patrimônio da internet seria "uma unidade de transmissão cultural, ou de imitação", ou seja, tudo aquilo que se transmite por meio da repetição, como hábitos e costumes dentro de uma determinada cultura.
Adaptado para a internet, especialmente para as redes sociais, o conceito de meme passa a ser uma "unidade" propagada ou transmitida através da repetição e imitação, de usuário para usuário ou de grupo para grupo. 1
Enfim, trata-se do resumo de uma ideia, que foi concentrada, embalada, processada e amplamente distribuída (caso seja um bom meme).
Em um trecho do livro Os Filhos de Anansi, do Neil Gaiman, se fala sobre o poder que algumas pessoas possuem de apelidar as coisas e com isso mudar a percepção que se tem do que recebeu o apelido.
A estrutura de um meme que deu certo funciona mais ou menos assim, e Neil pode explicar melhor.
Na Flórida havia um cachorro que vivia na casa em frente, do outro lado da rua onde Fat Charlie cresceu. Era um boxer castanho, de pernas compridas e orelhas pontudas. Tinha um focinho que fazia você pensar que o animal havia dado de cara com uma parede quando era filhote. A cabeça era altiva, o pequeno rabo, ereto. Sem dúvida, um aristocrata entre os cães. Participara de competições caninas. Tinha medalhas de Melhor da Raça e Melhor da Classe e até mesmo uma medalha de Melhor da Competição.
O nome do cão era Campbell s Macinrory Arbuthnot VII, e seus donos, depois de ganhar mais intimidade com ele, o chamavam de Kai.
Isso durou até o dia em que o pai de Fat Charlie, sentado na cadeira de balanço de sua varanda mal-cuidada, tomando goles de sua cerveja, notou o cão enquanto ele andava calmamente para lá e para cá no quintal do vizinho, preso a uma coleira que se estendia desde uma palmeira até a cerca. — Que cachorro mais pateta — disse o pai de Fat Charlie. — Igual àquele amigo do Pato Donald. Ô Pateta. E o que certa vez havia sido o Melhor da Competição perdeu de repente seu charme.
Para Fat Charlie, era como se visse o cão através dos olhos de seu pai. E aquele era um cachorro bem pateta se você reparasse bem. Quase desastrado. Não demorou muito para que o nome se espalhasse por toda a rua.
Os donos de Campbell s Macinrory Arbuthnot VII lutaram contra o nome, mas era como discutir com um furacão em vez de correr. Estranhos acariciavam a antes orgulhosa cabeça do cão e diziam: “Oi, Pateta. Como vai esse garoto?”. Os donos pararam de inscrevê-lo nas competições caninas logo depois. Não tinham coragem. “Ele tem um jeito meio abobalhado”, comentavam os jurados. Os nomes que o pai de Fat Charlie dava às coisas pegavam. Era assim e pronto.
Em um mundo de questões muito complexas, o meme oferece um conforto com a simplificação de temas para um eleitorado que não tem condições, seja de tempo ou até de disposição, para entender todos os ângulos dos desafios do nosso tempo.
Ao juntar esse extrato de senso comum com o espírito do tempo, o meme se torna um importante viés de confirmação no jogo eleitoral.
Inclusive, trata-se de uma técnica antiga, anterior a existência da internet e usada por todos os lados de cada disputa.
Mas como fugir dessas armadilhas que nossa mente tenta nos pregar?
Afaste-se do ruído, da resposta rápida e procure refletir um pouco sobre toda informações que chega para você.
Vivemos em um mundo em que uma rede de notícias teve desmentir um meme.
A afirmação acima vale principalmente se for o caso de um meme que confirme suas opiniões.
Divirta-se, mas com moderação. Muitas pessoas que receberão um meme talvez não entendam a ironia.
Vale muito um alô lá no LinkedIn ou no Instagram. Agradeço desde já.
Essa edição da QPD surgiu da edição do primeiro episódio da segunda temporada do podcast Além do Meme, apresentado pelo Chico Felitti. O tema do programa foi a dancinha do impeachment.
Além desse excelente episódio recomento o que conta a história de Andrea Mello (que eu não conhecia, mas poderia virar um livro) e o episódio do menino do Bar Mitzvá (uma música já surge em minha mente).
Uma janela aberta e cheia de emoções
No último dia 03 de março, foi aberta a janela partidária, aquele período em que os parlamentares podem trocar de partido sem sofrer a punição de perda de mandato.
É um período muito importante para uma projeção das chapas proporcionais da próxima eleição e vital para os candidatos, já que o período culmina com o prazo final para filiação partidária, e um movimento errado pode custar a eleição ou até mesmo a viabilidade da candidatura.
Na edição de 5 de março do podcast Legis-Ativo (link mais abaixo do texto), os cientistas políticos Graziella Guiotti Testa e Humberto Dantas discutiram uma série de questões referentes à janela partidária, que tentei resumir no quadro abaixo:
Será a primeira eleição para deputado (federal e estadual) onde não haverá coligações e em regra os partidos deverão montar chapas apenas com seus filiados.
A exceção são as federações, que reunirão os partidos por períodos de quatro anos e serão definidas nacionalmente com vinculação aos estados. Para apimentar mais a questão, o prazo para formalização das federações terminará quase dois meses após o fim da janela (falei mais sobre isso em outra edição da QPD).
Outra novidade é a redução do tamanho das chapas, que agora vão ser apenas no tamanho do parlamento em disputa mais um, quando antes eram de 150% do número de cadeiras.
A título exemplificativo, par as assembleias de 24 parlamentares, em 2022, as chapas serão de 25 candidatos, enquanto no passado, as chapas poderiam ter 36 candidatos.
Ainda há a necessidade de que o candidato consiga pelo menos 10% dos votos do quociente eleitoral para se eleger, o que pode impactar estratégias daqueles grandes puxadores de voto.
A doutora Graziella, ao falar da dificuldade da janela partidária de 22, fez alusão ao jogo de xadrez com pombo, diria diante de tantas condicionantes, seria mais o caso de um xadrez tridimensional, àquele que é mais complexo que o xadrez comum.
Para escutar o episódio:
Vale o clique:
Essa é a semana do Dia Internacional da Mulher e gosto sempre de lembrar que um dos nossos maiores desafios é combater o preconceito estrutural contra as mulheres. Também compartilho a carta que o repórter Jamil Chade endereçou ao deputado estadual por São Paulo, Arthur do Val.
O Lucas Pimenta nos Olhos citou três exemplos de políticos “mais antigos” que utilizam bem seus perfis no Instagram:
Regimes de urgência dos regimentos do Congresso: o debate na ADI 6.968, pelo consultor legislativo do Senado Victor Marcel Pinheiro, no Conjur.
O Felipe Tonet explica um pouco sobre a questão dos sites de arrecadação de doações, algo comum mundo a fora, mas ainda pouco utilizado no Brasil:
O Congresso e a Lei de Cotas, por João Feres Júnior e Joyce Luz, no Nexo Políticas Públicas.
Não sou capaz de opinar sobre a guerra, mas o Petit Journal tem feito um trabalho muito bom.
Outras edições que você poder gostar:
Quinze por Dia, ou simplesmente QPD, é uma newsletter quinzenal com temas sobre processo legislativo, política e afins, por Gabriel Lucas Scardini Barros. Se você recebeu esse e-mail de alguém, siga esse link para assinar.
Definição via artigo no site da SBPC.
rapaz, a QPD virou uma das newsletters que eu leio do começo ao fim. tá bem legal mesmo, parabéns!