A nova moda é o parlamentar-robô?
Iniciativas procuram utilizar inteligência artificial em candidaturas e mandatos.
Lembra das candidaturas coletivas?
Funciona assim: uma pessoa entra com o CPF, mas a candidatura (e o eventual mandato coletivo) é exercida por um grupo. Desde 2016, há algumas experiências como essas, de uma maneira informal.
Inclusive, no projeto de reforma eleitoral, há uma vedação para essa prática, que provavelmente deve ser aprovada no texto final.
Mas aparentemente, 2024 pode trazer uma nova moda: as candidaturas turbinadas com inteligência artificial.
Afinal, se aplicam uma inteligência artificial em uma máquina de lavar roupas, por que não aplicar em um parlamento?
A inteligência artificial já permeia os parlamentos, escreve projetos de lei e aparece em várias correntes das rede sociais dos parlamentares e candidatos.
Nas eleições municipais deste ano, aparecerá mais do que nunca na comunicação política, para o bem e para o mal.
No meio de tanta informação, duas iniciativas chamam atenção e podem significar mais uma abordagem no parlamentos.
O Resumido trouxe a história do AI Steve, um candidato virtual, cujo “avatar” é Steven Endacott, um empresário de Brighton, na Inglaterra1.
Além de um nome parlamentar, a ideia do AI Steve é conduzir uma série recorrente de questionários com os habitantes da base eleitoral de Endacott, e os dados coletados norteariam as votações no parlamento. Uma forma de aumentar a participação popular na democracia.
O AI Steve poderia ouvir dezenas de milhares de pessoas ao mesmo tempo e extrair um ponto em comum da opinião de todas essas pessoas.
O hacker político Pedro Markun foi além e apresentou um grande desafio: substituir os políticos por IA.
Uma IA que ouviria toda a população e encaminharia as indicações para a prefeitura. Além disso, ela teria condição de apresentar propostas legislativas melhores e economizaria muito dinheiro dos contribuintes.
Dias após a provocação, o próprio Markun lançou uma pré-candidatura a vereança para dividir a cadeira com uma IA. Será que mais candidaturas assim irão surgir?
Como a IA pode melhorar um mandato?
Pedi ajuda para uma IA e ela pode ajudar o mandato?
A IA pode ajudar na elaboração de projetos de lei analisando grandes volumes de dados para identificar necessidades legislativas e redigindo esboços otimizados. Além disso, a IA pode simular os impactos de novas leis, prevendo efeitos econômicos, sociais e ambientais, permitindo que parlamentares tomem decisões mais informadas e eficazes.
Para ajudar na fiscalização, a IA pode monitorar políticas públicas em tempo real, detectando desvios ou problemas de execução por meio da análise de dados públicos. Além disso, sistemas de IA podem realizar auditorias automatizadas em contratos e projetos governamentais, identificando fraudes e má gestão de forma mais eficiente.
Também pode aprimorar a função representativa ao facilitar o engajamento com eleitores por meio de chatbots e assistentes virtuais que respondem a perguntas e coletam feedback.
Ferramentas de análise de sentimentos podem compreender melhor as preocupações dos eleitores, e consultas públicas virtuais podem ampliar a participação popular na tomada de decisões.
A IA pode pode otimizar a organização de eventos e manifestações, garantindo maior participação e eficiência logística. E também pode automatizar a criação e distribuição de conteúdos informativos, tornando a comunicação com os cidadãos mais eficiente.
Nos trabalhos de uma CPI, a IA pode coletar e analisar grandes volumes de dados, identificando padrões e relações ocultas que auxiliam em investigações parlamentares. Além disso, sistemas de gestão de documentos baseados em IA podem organizar e categorizar evidências de maneira eficiente, facilitando o trabalho da comissão.
Mas qual há algum perigo?
Em primeiro lugar, toda pessoa que usou a nossa inteligência artificial atual sabe que, apesar das aplicações realizarem várias coisas muito surpreendentes, talvez ainda exista uma distância muito grande de uma real aplicação a contento.
Sem a condução de um humano, a IA pode delirar, e em um contexto de formulação de políticas públicas, isso pode ser um desastre.
Por outro lado, Steven Endacott, o cara da AI Steve, já previu a possibilidade de ele, o “CPF” do mandato, passar a discordar das decisões da inteligência artificial.
Nessa hora, os titulares vão seguir a vontade artificialmente racional da máquina ou vão voltar para suas opiniões naturalmente humanas?
A crise da democracia representativa é uma questão presente no legislativo desde sempre. Porém, substituir os representantes, que surgem do seio da sociedade, por um programa de computador não parece ser o caminho.
Pode-se argumentar que haverá ganho de eficiência, transparência e diminuição da corrupção. No entanto, também haverá perda de empatia e, possivelmente, a representação de minorias pode ser afetada.
A utilização de inteligência artificial para apoiar um mandato é algo bem-vindo e desejável. Contudo, hoje, não há possibilidade de uma IA substituir um representante humano.
Quinze por dia (os grupos)
Os grupos de telegram e de whatsapp da QPD estão liberados por um curto período de tempo. Se você quiser, participar só clicar nos botões:
Ao entrar, se apresente para o pessoal.
Vale o clique
Brasil tem 24,3 milhões de endereços sem número e 2,7 milhões em ruas e outras vias sem nome. Quando eu leio isso, só imagino quantas leis batizando ruas ainda serão editadas. Esse tipo de norma já virou QPD aqui e aqui.
Por que os Legislativos também precisam avaliar as leis que produzem?, por Roberta Simões Nascimento.
Medalha outorgada e foto da tapioca no Diário Oficial (em um dos melhores perfis do Instagram da atualidade):
O IPU lançou um divertido questionário sobre parlamentos (em inglês).
Democracia, legitimidade e crise da representação política no Brasil: aula inaugural do Programa de Pós-Graduação da Câmara dos Deputados 2024.
A rede social preferida dos parlamentares é o Instagram. Não só para postar, mas também para se informar. Naturalmente, um comportamento comum nos representantes e representados.
E por falar no Reino Unido, um fio do sobre as trapalhadas de Rishi Sunak na campanha pela sua reeleição. Dica do amigo, Luiz Oliveira.
A
, na última edição da radinho, lembrou de um dos grandes podcasts do ano passado, cuja importância só aumenta: o Caso das 10 mil.Uma análise de propostas legislativas que tratam sobre direitos reprodutivos em tramitação no Congresso Nacional.
Legitimidade Democrática Na Governança Algorítmica, por Julia Iunes Monteiro e Marco Aurélio Marrafon, na Revista Direitos Fundamentais & Cidadania.
Jogo & fumo: A proposta de legalização de jogos de azar tem um jabuti para liberar fumódromos em bingos e cassinos. Fumo em ambiente fechado está proibido no Brasil há cerca de 10 anos.
De onde saiu a justificativa do PL 1904. Lembrando que justificação das propostas legislativas foi tema de QPD esses dias. Os dois últimos links vieram pelo
.Melhores momentos de Maria Conceição Tavares, que faleceu recentemente. Via
.No parlamento europeu, uma proposta para escanear automaticamente mensagens criptografadas em busca de material de exploração sexual infantil. Um embate interessante sobre privacidade e proteção de crianças e adolescentes.
Monteiro Lobato no banco dos réus. STJ ira julgar racismo na obra de Lobato.
O consensualismo na Administração Pública: eficiência e incentivos, por Fernando Meneguin e Luciana Severo, no Jota.
Vizinhança
Quinze por Dia, ou simplesmente QPD, é uma newsletter quinzenal com histórias, pensamentos e indicações sobre temas ligados ao Poder Legislativo, política e afins, por Gabriel Lucas Scardini Barros. Estou à disposição para conversar no Instagram @gabriel_lucas. Caso tenha recebido esse e-mail de alguém ou chegou pelo navegador, siga esse link para assinar.
Muito interessante suas colocações, Gabriel. Nunca tinha me atentado ao tema.
Medo de campanhas neste nível. Será uma guerra não declarada.
Fiquemos de olhos bem abertos!