Uma nova invasão alienígena: todo dia
Como regulamentar e viver com a nova realidade de inteligência artificial?
Nada é novo.
Em 30 de outubro de 1938, uma narrativa romantizada de um trecho do livro Guerra dos Mundos, de H. G. Wells, criou o caos em localidades próximas a Nova Jersey, de onde a CBS emitia e onde Welles ambientou sua história. Houve fuga em massa e reações desesperadas de moradores também em Newark e Nova York. A peça radiofônica, de autoria de Howard Koch, com a colaboração de Paul Stewart e baseada na obra de Wells (1866-1946), ficou conhecida também como "rádio do pânico".1
Essa é só uma das vezes que uma história falsa se espalhou como verdade.
Sempre lembro de uma propaganda de telefone celular, um dos primeiros aparelhos com câmera embarcada, onde havia um boi dentro de um taxi e dizia-se algo como “não conte, fotografe e envie”.
Em 2009, um avião pousou no Rio Hudson e a primeira imagem foi a de alguém no twitter (sim, virou livro e aquele filme do Tom Hanks):
Nesse clima de que melhor do que contar é fotografar e enviar, no último mês de maio espalharam um falso ataque ao Pentágono (história completa aqui).
Foi uma soma dos fatores, história falsa, bem contada com ajuda de imagem criada por inteligência artificial, foto no twitter sendo divulgada por um perfil falso sinalizado como verificado (no novo sistema de verificação paga).
Mais cedo esse ano, houve a história do casaco do papa, agora esse ataque que não existiu. 2023 inaugura uma era onde todo dia estamos prestes a nos deparar com uma nova versão da pegadinha radiofônica de quase um século atrás, turbinada por uma série de aplicações de inteligência artificial generativa.
Está na hora de regulamentar a Inteligência Artificial?
Como informado em uma edição passada da QPD, tramita no Senado o PL n° 2338/2023, que dispõe sobre o uso da Inteligência Artificial. Pedi para o ChatGPT resumir a justificação do projeto:
O projeto de lei busca conciliar a proteção de direitos e liberdades fundamentais, a valorização do trabalho e da dignidade humana com a inovação tecnológica da inteligência artificial.
Estabelece direitos para proteger as pessoas impactadas pela inteligência artificial e garantir acesso à informação, contestação de decisões automatizadas e não discriminação.
A regulação é baseada em riscos e direitos, com instrumentos de governança e fiscalização para garantir a conformidade e segurança jurídica.
Categoriza os riscos da inteligência artificial, estabelecendo avaliação preliminar, aplicações vedadas e normas mais estritas para sistemas de alto risco.
Define regras de responsabilização civil, diferenciando a responsabilidade objetiva para sistemas de alto risco e a presunção de culpa para sistemas de menor risco, além de proteger contra discriminação e promover a inovação.
No rol do risco excessivo, o projeto veda:
I – que empreguem técnicas subliminares que tenham por objetivo ou por efeito induzir a pessoa natural a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança ou contra os fundamentos desta Lei;
II – que explorem quaisquer vulnerabilidades de grupos específicos de pessoas naturais, tais como as associadas a sua idade ou deficiência física ou mental, de modo a induzi-las a se comportar de forma prejudicial a sua saúde ou segurança ou contra os fundamentos desta Lei;
III – pelo poder público, para avaliar, classificar ou ranquear as pessoas naturais, com base no seu comportamento social ou em atributos da sua personalidade, por meio de pontuação universal, para o acesso a bens e serviços e políticas públicas, de forma ilegítima ou desproporcional.
Isso é apenas um vislumbre de tudo que é discutido no projeto.
A MIT Technology Review fez um apanhado de tentativas de regulação de IA, alguns exemplos:
Princípios de IA da OECD: A OECD adotou princípios não vinculativos que estabelecem os valores que devem fundamentar o desenvolvimento de IA, incluindo transparência, segurança, responsabilidade e respeito aos direitos humanos e à diversidade.
Parceria Global em IA: Uma organização internacional criada para compartilhar pesquisa e informações sobre IA, promover colaboração em pesquisa responsável e informar políticas de IA em todo o mundo.
Lei de IA da União Europeia: A UE está finalizando uma regulamentação abrangente que visa controlar os usos mais arriscados de sistemas de IA e impor restrições ao reconhecimento facial e à IA generativa (o quê inspirou a proposta brasileira).
Repete-se a pergunta:
Você tem um minuto para ler sobre Netiqueta?
Netiqueta2 é como um conjunto de regras para se comportar bem na Internet, uma espécie de etiqueta virtual. Era muito comum nos primórdios da internet. Lembro de vê-la bastante quando participava de listas discussão por e-mail sobre RPG3.
Por lá aprendi algo que guia minha existência digital desde os anos 90:
Seja conservador com o quê escreve e liberal com o que lê.
Não se trata dos termos ao pé da letra, mas o entendimento de que as pessoas que receberão as mensagens (e podem ser muitas) provavelmente entenderão de maneira diferente do que você pensou que entenderia.
Toda essa nostalgia surgiu da nova temporada do Primeiro Contato, que agora conta a história da internet no Brasil:
Vale muito ouvir também a primeira temporada e o Braincast em que o Rique Sampaio fala sobre essa segunda temporada.
Há quarenta anos as Diretas Já estavam prestes a começar. No dia 15 de junho de 1983 haveria o comício considerado o primeiro da campanha.
Estou em um clima de diretas graças ao livro Girassol que nos tinge, que conta os aspectos políticos e culturais da campanha pela aprovação da emenda Dante de Oliveira.
Também são 10 anos das jornadas de junho de 2013.
Vale o clique
Você conhece o termo decisão estratégica não sincera? O Sem Precedentes tem sido um ótimo cronista dessa trilha sinistra que o supremo tem caminhado:
Uma página muito legal sobre linguagem simples, do Iris, Laboratório de Inovação do Governo do Ceará.
Avaliação da transparência das Assembleias Legislativas e Câmara Legislativa do DF. Por aqui gostamos de rankings, mas entendemos que há armadilhas. Esse próprio ranking da transparência internacional não é transparente, já que ele é formado por dezenas de indicadores, mas na página onde anunciam os dados completos não há as notas das Assembleias abertas por indicador, apenas o valor total de cada dimensão (e o consolidado total.
França aprova lei para regular influencers em redes sociais, com pena até de prisão. Haverá proibição de criação de conteúdo pago que promova o tabagismo, cirurgias estéticas e alguns tipos de dispositivos médicos e alguns de produtos financeiros.
Nada mais factoide4 do que citar Alexandre Matias, postando no instagram do Trabalho Sujo, as capas de discos com o ambiente de fundo ampliado (abaixo, aqui e aqui):
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É sobre economia dos criadores, mais a conversa do Cris Dias com a Egnalda Cortês foi muito além, vale muito a pena:
Eleições e moderação de conteúdo: dilemas democráticos e limites da liberdade de expressão. Uma mesa redonda muito interessante.
Vizinhança
Quinze por Dia, ou simplesmente QPD, é uma newsletter quinzenal com histórias, pensamentos e indicações sobre temas ligados ao Poder Legislativo, política e afins, por Gabriel Lucas Scardini Barros. Estou à disposição para conversar no Instagram @gabriel_lucas. Caso tenha recebido esse e-mail de alguém ou chegou pelo navegador, siga esse link para assinar.
A história é conhecida, mas se quiser saber mais, clique aqui.
Veio de Netiquette. E segue um texto mais aprofundado, em inglês.
Trails e Tormenta.
Meu antigo blog, ascendente espiritual desta newsletter..