Tudo bem aí?
Uma tradição mantida. Este é o terceiro ano que começa com a existência desta newsletter e também o terceiro ano que o título do primeiro e-mail é uma saudação. Só que dessa vez trata-se também uma pergunta.
Tudo bem com você? Diz aí.
No ano passado, Olá foi a primeira edição escrita com ajuda de inteligência artificial, ainda quando o ChatGPT era uma novidade recente.
Já peço desculpas pelo clickbait, em Oi, foi a edição sobre o impacto dos assuntos de e-mails nas eleições e como um tema como esse, em tese, leva mais pessoas a abrir.
E por falar em eleições, começou mais um ano eleitoral, e isso acaba sendo assunto por aqui, já que os parlamentos municipais terão cerca de 60 mil vagas em disputa.1
Tic tac, dia 6 de outubro está chegando.
E a grande parte da população, que apenas irá votar no dia do pleito, não está se importando com isso. E não há nada de errado em focar em ganhar a vida, a campanha eleitoral existe justamente para atrair a atenção das pessoas.
Mas para quem está ligado à campanha, o tempo urge e o clima de campanha já está no ar há algum tempo.
E recentemente um tema ganhou força: a polarização vai chegar às eleições municipais.
Geralmente, as eleições para prefeito e vereadores têm discussões sobre questões práticas das cidades, como creche, posto de saúde, como estão as ruas ou o serviço de distribuição de água.
Mas para muitos, pelo menos nos grandes municípios, a disputa ideológica que pautou as duas últimas eleições gerais também dará as caras.
Felipe Nunes e Thomas Traumann, autores do ótimo livro Biografia do Abismo, que trata justamente da polarização, defendem que candidatos que se liguem a um dos polos políticos nacionais2, e arrastem para campanha temas mais ideológicos, terão grande protagonismo.
Por outro lado, em 2020, com os ânimos já acirrados, não se viu tanta discussão nesse contexto. Algo mudou?
Cabe polarização nos municípios?
O quê se vê cada vez mais em várias esferas do Poder Público são novas formas de atuação ideológica, por exemplo, e uma administração municipal mais conservadora pode aprovar leis para dificultar a indicação de realização do aborto legal em sua rede de saúde.
Sem sair da saúde pública, uma administração mais progressista pode estimular uma rede de atendimento à população LGBTQIA+.
Os autores do já citado Biografia do Abismo terminam o livro relembrando a peça “Entre Quatro Paredes”, de Jean-Paul Sartre, uma alegoria sobre a incapacidade que todos nós temos de fazer concessão aos outros, mesmo quando precisamos de ajuda. O nosso inferno é compreender o outro.
Nessa linha, outro livro muito interessante, Exu3, conta também um mito mais ou menos assim:
Para atrapalhar a amizade de duas pessoas, Exu colocou um gorro, de um lado o gorro era vermelho, do outro tinha a cor preta.
Ao passar por entre essas duas pessoas, gerou uma discussão, pois um viu um gorro vermelho e outro viu um gorro preto.
No fim, essa discussão encerra com a amizade.
Esse mito também diz muito sobre a política, já que cada uma das pessoas tem a cor que viu e não estão necessariamente erradas, muito menos sendo desonestas.
Romper a bolha é entender a realidade do outro, suas necessidades e anseios. Entender que o gorro tem duas cores é romper a bolha, questionar convicções pessoais para um acordo mínimo de convivência e discussão saudável.
Entender o outro é a chave não só para escapar da polaridade, mas também para ter mais votos.
Enquanto isso, nos EUA.
Outro assunto que irá dominar o ano é a eleição dos EUA, há muito o que se falar, mas o que eu me pergunto é se o resultado dos EUA se espelhará no Brasil dois anos depois.
Não só por questões ideológicas, mas a própria técnica empregada nas campanhas serve de exemplo por aqui (as campanhas de Obama ou de Trump são citadas em muitas apresentações).
Os resultados daqui não são determinados pelos de lá, mas que são uma referência muito grande, são.
Ainda em tempo: um ótimo 2024 para você e para sua família.
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Linguagem Simples para quem?
A última edição ordinária de 2023 tratou sobre as iniciativas de Linguagem Simples. O tema gerou algumas discussões.
Seria a adoção da linguagem simples um atentado à nossa língua portuguesa? Nesse ponto, tenho tranquilidade de afirmar que uma forma clara e precisa de comunicação pública não vai matar a última flor do Lácio.
As iniciativas do judiciário para adoção da linguagem simples vão vingar? Afinal, uma linguagem rebuscada também é uma forma de poder. Estariam mesmo dispostos a abrir mão desse poder para melhorar a acessibilidade?
Recebi uma carta
Se você leu a última edição do ano passado, sabe que eu participei de um amigo oculto de autores de newsletters. Quem me tirou foi a
do , ganhei um presentão e compartilho com vocês.A carta é sobre esta edição aqui. Na minha opinião, a edição que fala da inexistência do princípio da celeridade no processo legislativo ficou mais interessante após o texto da Maju.
Caso tenha ficado curioso com a carta que eu mandei para minha amiga secreta, ela está aqui.
Será o fim do cardápio de QR Code?
Foi sancionada uma lei municipal no Rio de Janeiro que estabelece a obrigatoriedade de um cardápio físico para restaurantes e casas noturnas.
Varia de cidade para cidade. Em alguns lugares, o cardápio acessível por meio do código QR já foi sendo abandonado à medida que a pandemia se tornou mais branda.
Em outras localidades, até os pedidos são feitos pelo QR Code.
Essa lei se tornará moda no país?
Vale o clique
Os amigos do Legis-Ativo agora estão no Congresso em Foco e o primeiro texto já está no ar. Aproveito e mando o link novamente da minha participação no podcast no mês passado.
Não houve mudanças legislativas nas regras eleitorais de 2024, mas sempre existem novidades nas resoluções do Tribunal Superior Eleitoral. O TSE disponibilizou a minuta destas, bem como a possibilidade de apresentação de sugestões e o calendários das audiências públicas sobre o tema.
Ronaldo Lemos fala sobre outras opções de exercício da democracia a partir da mudança na forma de votação do Big Brother Brasil 2024.
Em setembro, uma edição da QPD falou sobre a instituição da comissão de juristas para atualização do Código Civil, no fim de dezembro, o Senado Federal publicou uma série de relatórios parciais das possíveis atualizações de revisões do nosso CC/2002.
Em meio às discussão de linguagem simples, um concurso busca eleger a pior palavra de 2023. Meu voto: adstrita.
Um recado do parente:
Momento Mato Grosso. Recentemente, um podcast e uma newsletter sobre temas locais apareceram com bons formatos: Ouça Direto, podcast do site Olhar Direto e a Eh Fonte, newsletter da jornalista Adriana Mendes.
As emendas parlamentares e o controle externo, pelo conselheiro Guilherme Maluf.
CINCO - Ciências Comportamentais em Governo mostra as iniciativas que o executivo federal tem para melhorar políticas públicas. Via
.Muitos números para mostrar que não faz sentido um fundão de R$ 4,9 bilhões, por Bruno Carazza (autor do ótimo Dinheiro, eleições e poder: As engrenagens do sistema político brasileiro).
No apagar de 2023, o Barômetro do Poder, da InfoMoney.
Como analisar a conjuntura política na campanha eleitoral? Por Darlan Campos.
Curso Básico sobre Violência Política de Gênero promovido pelo Observatório de Violência Política contra a Mulher, gratuito no YouTube.
A democracia digital como instrumento de fiscalização da representação política, por José Bruno Martins Leão, na Revice - Revista de Ciências do Estado da UFMG.
Vizinhança
Algumas palavras sobre o 8/1: Apesar da importância de recuperar os móveis e prédios danificados, ainda aguardo o reparo nas rachaduras da própria democracia brasileira.
Quinze por Dia, ou simplesmente QPD, é uma newsletter quinzenal com histórias, pensamentos e indicações sobre temas ligados ao Poder Legislativo, política e afins, por Gabriel Lucas Scardini Barros. Estou à disposição para conversar no Instagram @gabriel_lucas. Caso tenha recebido esse e-mail de alguém ou chegou pelo navegador, siga esse link para assinar.
Em 2020, o TSE divulgou que foram 58.208 vagas em disputa. O chute de 60 mil vereadores fica por conta do “Data QPD”.
Filipe Nunes fez uma participação muito interessante no podcast O Assunto para falar sobre o tema.
Aqui está tudo bem e por aí? Aliás, essa edição tá sensacional. “O nosso inferno é compreender o outro.” vai pro caderninho pra não esquecer disso. ❤️